quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O Natal

Dona Flores levou um choque ao olhar para o calendário, faltava uma semana para o natal. Sem dúvida o ano não passou, e sim vôo, de tão rápido que chegou ao fim e ela nem percebeu. Agora, faltando apenas uma semana para as comemorações no Natal, ela deveria correr com os preparativos e fazer com que o natal de sua igreja fosse o melhor de todos os tempos.
Dona Flores tinha um plano em sua cabeça desde o ano passado. Já tinha pensado em cada detalhe. Sem sombras de dúvidas seria o maior e melhor natal que já houve. E não seria o fato de haver apenas uma semana que a impediria de fazer tão maravilhosa ação para Deus. Não seria o pequeno lapso de memória, um esquecimento insignificante - argumentava para si mesma – que destruiria o mais fascinante evento de sua igreja naquele ano. Ora, pensou ela, não era culpa sua que o tempo estivesse passando tão rápido.
Sem desanimar com a falta de tempo, dona Flores, pegou uma caneta e um pedaço de papel. Começou a escreve freneticamente, dando a impressão que tinha convulsões ao final de cada linha escrita. Assim registrava suas idéias, ordens e tarefas, sem esquecer de quem deveria fazer as coisas. Mais ou menos ela escreveu o seguinte:
“1° Fotocopiar e encadernar o roteiro da peça com 101 páginas;
2° Convocar os 60 participantes, distribuir os personagens e ensaiá-los;
3° Mandar as senhoras da igreja fazer o figurino das personagens; obs.: as próprias senhoras deveriam comprar os tecidos;
4° Ordenar que os diáconos façam um palco na frente da igreja, com iluminação, cortinas e fixem os cenários;
5° Mandar que as meninas da igreja pintem os cenários, igual ao gabarito da Internet;
6° Determinar que o rapaz operador do som faça a trilha sonora;
7° Reservar o horário no salão de cabeleireiro para arrumar o seu cabelo e unhas (afinal a diretora do espetáculo deve estar apresentável);
8° Mandar o pastor da igreja trazer o seu computador e o datashow para projetar as imagens no fundo, inclusive o próprio pastor deveria fazer as imagens;
9° Comprar um vestido novo;
10° Preparar a queima de fogos que finalizaria o espetáculo;
11° mandar o senhor Josefo, dono de uma gráfica, fazer 100.000 folhetos divulgando o seu magistral evento de natal; e etc, etc”;
Ao terminar sua longa lista de tarefas, olhou mais uma vez para o calendário, não se intimidou com o pouco tempo, afinal uma semana era tempo de sobra. E para Deus não há impossíveis, se Deus abriu o mar vermelho, parou o sol, Ele poderia também agir para fazer tudo dar certo nesta semana. Não seriam estes tempos corridos da época moderna que a impediria de servir ao Todo-poderoso.
O tempo é escasso, pensou, mas a fé move montanhas e faz milagres. E ela tinha fé de sobra para fazer esse pequeno milagre. Era só começar que tudo daria certo.
Olhou para o relógio, viu que se aproximava a hora de ir para o culto. Sem sombra de dúvida era mais um sinal de que tudo daria certo, Deus estava a seu favor. Tomou um banho demorado, se arrumou e foi, andando calmamente para a igreja.
Chegou ao templo pouco antes do término do culto. Bem a tempo para dar suas ordens – outro sinal de Deus, festejou consigo mesma. Subiu ao púlpito e tomou a palavra já explicando todos os detalhes e colocando todos para fazer a obra do Senhor...
“Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente” Jeremias 48.10a