quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A Bala da Felicidade

Aquele fora um final de semana triste, chovera continuamente desde a sexta-feira à tarde. Pedro estava assistindo televisão alternando freneticamente entre os canais. Tudo o entediava. Num canal um apresentador obeso e mal-educado. Noutro as piadas sem graça. Mais outros os animais da selva africana almoçavam.
De repente, ela pára em um canal, cujo número é o da perfeição, e o homem que falava chamou a sua atenção. Uma fala intensa, profunda e penetrante. Aquele homem tinha uma aura de carisma que era irresistível, algo fora do comum. Pedro ficou cativado pelas palavras do pregador. Havia algo de confiável, correto no homem da TV. Ele falava e Pedro se deliciava com cada Silaba . Parecia que a partir de agora tudo fazia sentido. O tédio acabou! As preocupações acabariam! A tristeza e os desgostos teriam fim! Enfim Pedro achou a solução para sua vida.
Imediatamente, ele se levantou, tomou um banho às pressas e saiu com o endereço que anotara ao final do programa de TV. Ele não podia perder aquela oportunidade. Era tudo ou nada.
Foi ao ponto de ônibus. Esperava e sua cabeça rodopiava com mil planos. Bastava um simples ato, fácil e rápido. Tão barato perto dos resultados que alcançaria. Com certeza era ele o escolhido. A partir daquele momento tudo seria diferente. Teria bons empregos, carros, casas, quem sabe não poderia ter até uma multinacional!
Seu coração disparou quando viu a igreja que mudaria sua vida. Ao chegar na escadaria desgostou-se em ver a multidão que lá estava, mas não se intimidou. Seguiu em frente. No último degrau viu uma placa enorme: “Não aceitamos cheques”. Pedro quase caiu. Seu coração estava tão acelerado que parecia que explodiria. Ao se apoiar numa coluna, tomando fôlego, viu outra placa que trazia escrito: “Estacionamentos, praça de alimentação e Caixas Eletrônicos – subsolo 1”.
Pedro correu escada abaixo, o culto havia começado, ele não podia demorar e perder a oportunidade. Para sua felicidade lá estava o caixa eletrônico de seu banco. Bem acima estava afixada uma placa com todas as informações para efetuar a transferência para a conta da igreja.
A mão de Pedro suava enquanto realizava o empréstimo. Demoraram alguns minutos para o valor ser creditado na sua conta, pareciam que era uma eternidade. A música seguia alegre e animada logo acima de sua cabeça. Com certeza ele pagaria o empréstimo em menos de uma semana. Afinal, dava uma prova de que sua fé era enorme, Pedro pensou.
Enquanto fazia as transações bancarias, as musica terminaram e parecia que logo o culto acabaria. Pedro correu com o comprovante de depósito em sua mão, chegou a tempo. O pregador já começara a trocar as ofertas pelas balas açucaradas da prosperidade. Segundo a explicação do pregador, ele deveria dividir a bala de goma em sete partes e comer, em jejum, logo pela manhã. Assim todos os desejos do seu coração seriam realizados.
O pregador ordenou que de acordo com o tamanho da sua fé, manifestado pelo tamanho de sua oferta, ele daria de uma até dez balas de goma da prosperidade. Quanto mais balas, maior a bênção e a prosperidade.
Pedro aguardava sua vez na fila, ansiosamente torcendo para que as balas não acabassem. Imaginava o que faria com a sua riqueza recém adquirida. Em uma semana seria chefe, em menos de um mês seria o dono da empresa. Na outra compraria um carro. Depois uma casa. E quando as balas acabassem voltaria e pegaria mais. Continuaria voltando, comprando mais balas abençoadas da prosperidade, até que fosse dono da maior multinacional do mundo. Chegando a sua vez, entregou o comprovante de transferência. O pregador elogiou a fé de Pedro e lhe deu dez balas.
Então, Pedro saiu radiante, não cabia dentro de si, tamanha era sua felicidade.
...
Dez semanas se passaram.
A bela igreja fechou suas portas. Foi despejada por não pagar o aluguel. Dizem que está funcionando em outra capital do país.
Pedro, está sentado em seu sofá, assistindo ao apresentador obeso mal-educado, as piadas sem graça, e a refeição dos bichos da selva africana. Mudando freneticamente de canal. Mas hoje ele não sente mais tédio, e sim um ódio enorme, do tamanho da sua antiga fé, pelo pregador, pela Bíblia e contra tudo que se chame DEUS...
“Ai destes profetas sem juízo e sem moral! Eles seguem a sua própria inspiração e inventam as suas próprias visões... enganam o meu povo ...” Ezequiel 13.3,11ª (NVILH)
“O senhor Todo-poderoso diz: Não escutem o que os profetas dizem, pois eles estão iludindo vocês com falsas esperanças. Dizem coisas que eles mesmos inventam e aquilo que eu não falei”. Jeremias 23.16 (NVILH)
Guilherme Berbert

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