terça-feira, 15 de abril de 2008

Muita Calma

Isaque era o morador mais conhecido em sua cidade. Uma cidadezinha do interior. Era quase impossível achá-la num mapa deste da escola. E Isaque era conhecido, não exatamente pelas suas virtudes ou grandes realizações.
Era um homem adulto, na casa dos trinta anos, já beirando os quarenta anos. Nasceu e viveu em sua cidade. Jamais pisou fora dos limites do município. Vivia do que plantava, ou melhor, colhia na propriedade de seus pais. Ele era o caçula de 12 irmãos, o único que ainda morada na roça.
A maior, talvez a única , virtude que Isaque possuía era a tranqüilidade. E por causa de sua tranqüilidade era tão famoso. Nunca, ninguém jamais viu Isaque se apressar para nada. Quando criança, nas partidas de futebol, achava tudo muito rápido, apressado e desnecessariamente agitado. Nas vezes em que tentou participar parecia que andava em câmera lenta durante o jogo, foi expulso pelos colegas antes do final do primeiro tempo.
Na escola, Isaque sempre chegava atrasado. E arrumava lentamente suas coisas na mesa. Quando terminava já era hora do recreio. Mal tinha tempo de ir ao banheiro e já esta na hora de voltar para a sala. Ele dizia que tudo estava acelerado.
Quando seus pais o mandavam fazer algo, geralmente voltava no final do dia, já no crepúsculo, dizendo que não deu tempo, que tudo estava muito rápido. Se ia comprar alguma coisa, pensava e invariavelmente desistia de ira até a venda comprar, pois achava que era desnecessário. Não poucas vezes adiava o término de uma tarefa por vários meses.
Na lida da roça, Isaque esperava o dia clarear, o calor do meio dia passar, a chuva parar, o inverno terminar. Para ela não havia nada tão urgente que não pudesse ser feito depois. Afinal de contas Deus já determinara como tudo aconteceria, e não seria ele que lutaria contra Deus.
Aos domingos, só chegava na igreja quando já cantavam o amém final. Só ouvia os avisos do final do culto. Nenhum acidente, morte, tragédia ou acontecimento o perturbava. Então respondia com sua voz característica e lenta: “são os desígnios de Deus”. A cada dia sua tranqüilidade se tornava mais proverbial, para não dizer cômica, e mais exagerada.
Pensava em orar, mas não se dava ao trabalho, por quê Deus já sabia o que ele iria falar, portanto era perda de tempo cansar ao Todo-poderoso com suas conversas repetitivas. Às vezes queria ler a Bíblia, mas o aprendia na igreja já era suficiente, além do mais o Espírito Santo é quem faz a obra, e Cristo já perdoou seus pecados. Assim sendo era inútil ele tentar fazer qualquer coisa, pois Deus já fez tudo.
Isaque esperava o dia começar e aguardava o anoitecer. Sem pressa. Para ele Deus já havia feito tudo, determinado tudo, cabendo a ele, Isaque, apenas viver a cada dia, esperando o fim.
Nada era mais importante do que esperar. Afinal de contas era isso que Deus havia planejado para ele. Portanto, pensava Isaque, não era preciso fazer nada, por quê Deus já havia feito tudo.
“O tolo cruza os braços e come a própria carne, dizendo: Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento”. Eclesiastes 4.5-6

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