quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Reitor

Mateus entrou no restaurante como se fosse um rei. Finalmente ele chegou ao topo. Na reunião daquela manhã foi confirmado como novo reitor da Universidade, das escolas e de toda a rede educacional da igreja. E como prêmio extra, ganhou a direção da rede de comunicações.
Para comemorar foi ao restaurante mais caro da cidade. A noite iria com a esposa ao teatro municipal e depois jantariam juntos. Também não esqueceu de mandou um enorme buquê de rosas e um lindo dólar de diamantes, como uma compensação por ter ficado tanto tempo ausente do lar.
Agora que era o mais poderoso da Universidade, com o maior salário e participação nos lucros , tudo melhoraria, trocaria o carro, a casa e viajaria para todo o mundo. Com certeza tudo o que fez valeu a pena.
Sentou-se à mesa reservada por ele. O garçom veio atendê-lo. Mateus achou que o conhecia de algum lugar, mas não ligou e fez rapidamente o pedido do melhor prato, do melhor vinho e sobremesa.
Quando foi servido se deliciava com cada pedaço, saboreando intensamente o gosto da vitória. Entrou em uma viagem mental, relembrando os últimos trinta anos de trabalho. Valeu a pena trabalhar 16horas por dia, não tirar férias. Compensou mentir, ou melhor dizer inverdades ou omitir – justificou para si mesmo – para destruir os certinhos que passaram pelo seu caminho. Foi proveitoso mascarar os desvios de dinheiro feito pelos reitores anteriores. A recompensa foi ótima pela dedicação exclusiva ao trabalho, ainda bem que dividiu as tarefas com a esposa. Ele trabalhava enquanto ela cuidava dos filhos, para que não o atrapalhassem.
Quando chegou a sobremesa, lembrou dos últimos anos. Dos discursos e palestras que fazia todos os domingos à noite nas igrejas dos pastores e outros membros o conselho universitário. Mateus, satisfeito consigo mesmo, lembrava que cada discurso, cada palestra foi cuidadosamente preparada para agradar aquele conselheiro.
Se o conselheiro era liberal e moderno o seu discurso era liberal e moderno. Se o conselheiro fosse conservador e tradicional, Mateus palestrava a respeito do valor da tradição.
Na última colherada, sentiu uma satisfação intensa, lembrando do sucesso que foi simular e dissimular. Sempre dizendo que ele era um mediador, um conciliador, uma pessoa centrada. De agora em diante era ele quem daria as cartas, ele era o chefe, as coisas seriam do seu jeito...
O garçom trouxe a conta e Mateus pagou, deixando uma grande gorjeta, pois aquela sensação de que conhecia o garçom persistia em incomodá-lo. Deu a gorjeta para garantir que não tinha feito nada de mal para o pobre rapaz e calar a sua consciência.
Levantou e foi para a universidade tomar pose de sua nova sala, aliás, mandaria reformar completamente deixa-la ao seu gosto.
Mateus nem se quer percebeu que o jovem garçom estava chorando, por que acabara de servir a seu pai e ele não o reconheceu...
“Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e na perdição. ” I Timóteo 6.9

Nenhum comentário: