João nunca tinha sentido seu coração bater tão rápido, parecia-lhe que a qualquer momento pularia de sua boca para o chão. Sua boca estava cheia de uma saliva grossa, não era sede, era algo mais profundo, sinistro. Era o inexorável medo de morrer. Suas pernas moviam-se mais rápido do que jamais ela havia pensado que conseguisse. Seu desespero era tamanho que ela corria pelas vielas da favela, subindo e descendo por estreitos caminhos tentando escapar de seus perseguidores.
Quando a policia cercou as entradas da favela, naquela madrugada – “maldita sexta-feira 13” pensou João – Alguém disse que fora ele quem havia ‘dedurado’ a chegada dos produtos. Ao invés das habituais salvas de rojões de fogos de artifícios, o que se ouviu foram os gritos dos policiais. De imediato os companheiros de João se jogaram em cima dele, ameaçando e dizendo que se fosse ele o responsável pela chegada policia seria morto.
Para sua infelicidade, a policia invadiu a favela e em meio aos tiros, gritos e confusão geral, o seu primo Tiago, que era policial, estava na linha de frente. Em absoluto pânico João, percebeu que ‘Chapinha’, o gerente da ‘boca’ também viu o seu primo. De fato, João imaginou que só podia ser muito azar mesmo – “Deus esta contra mim” pensou – logo, seu primo crente, certinho e da policia tinha que dar as caras. Haviam anos que aquele careta tinham saído da favela, virou burguês. E agora como explicar que ele não tinha nada com esta história.
Antes que pudesse imaginar alguma história, viu que Chapinha caminhava em sua direção. De arma em punho, engatilhada. Ele já vira aquela expressão antes. Sabia que seria morto em pouco segundos. Chapinha era capaz disto e muito mais. Sabia que sua morte seria demorada e dolorosa, mais ainda, sua família, sua mãe corria muito perigo.
Sem perceber ele se levantou e correu pela porta da boca. Chapinha gritava, xingava e atirava em sua direção. Ele ouvia o barulho das balas passando de raspão. Jamais imaginou que Chapinha, que era ótimo atirador, daqueles de acertar pardal voando, erraria de tão perto. Para sua sorte errou.
A única coisa que impediu a caçada a João foi a chegada da policia. João deu graças a Deus por isso. E continuou a correr, procurando algum burraco para se esconder. Não demorou muito e estava no terreno da escola. Pulou o muro num salto só. Subiu pelos canos de chuva, e foi se esconder no telhado. De lá poderia ver tudo o que acontecia. E se fosse necessário poderia pular no outro lado para o meio do matagal que ficada nos fundos da favela.
Ali ficou acordado até o amanhecer. Lembrou das vezes que seu primo certinho o chamava para ir para a igreja. Também lembrou das diversas vezes que, de manhã, ao entrar em casa, via sua mão de joelhos chorando e orando.
João decidiu que desde dia em diante mudaria de vida, largaria as drogas e o tráfico, se Deus o livrou das mãos de Chapinha, ele é que não ira desperdiçar sua chance. De agora em dia era um homem novo, correto, até aceitaria Jesus.
Quando o dia clareou e as coisas se acalmaram. Voltou para casa e encontrou com sua mãe ajoelhada. Abaixou-se ao lado dela e anunciou as boas novas. Sua mão o abraçou e oraram juntos. Agradecendo a Deus pela aurora de uma nova vida.
“Ai” Lucas 11.46
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