segunda-feira, 30 de maio de 2011

Babel - 7.Os últimos dias em Babel



“Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla
Teste David cum Sibylla”
(Dia de ira aquele em que o universo será reduzido a cinzas,
segundo as predições de David e Sibila.)
Durante aquele mês todas as famílias Semitas trabalharam arduamente nos preparativos para a longa jornada que iriam empreender. Confeccionaram novas ferramentas, novas roupas, separam os melhores animais que receberam todos os cuidados para suportarem bem a longa jornada, ajuntaram as melhores mudas e sementes.
Ao mesmo tempo os preparativos das festividades de coroação dos novos deuses seguiam agitadas, inúmeras cabeças de gado estavam sendo solicitadas a todos os fazendeiros da planície de sinear, e levadas para as dependências da torre de Babel, onde também ficava o palácio de Ninrod. Todos os dias chegavam carregamentos de vinho, azeite, cereais, frutas, legumes de todos os cantos do reino para que durante aquele mês as pessoas comessem a vontade.
Os semitas também empreenderam todos os esforços para que sua partida passasse despercebida. Se bem que com toda a agitação da cidade, o preparativos mal foi percebido. E aqueles que perguntavam alguma coisa, a resposta convencionada pelos anciãos foi que estavam preparando uma festa para o Deus Altíssimo, nas colinas próximas a cidade, pois os semitas não desejavam se contaminar durante as festividades.
Porém, faltando uma semana para a lua cheia, estando Conselho reunido,  chegaram à casa de Sem alguns guardas que levaram, forma muito truculenta, os chefes das famílias Semitas à presença de Ninrod.
Chegando ao palácio, foram recebidos por Ninrod, que tinha uma expressão de desagrado no rosto:
- Filhos de Sem, foi informado por meus guardas que vocês estão preparando uma festa ao seu Deus fora da cidade. Por que vocês insistem em desobedecer minhas ordens? Os mensageiros anunciaram que todos no meu reino deveriam participar das festividades e também contribuir para a realização delas. Mas vocês além de não querer participar ainda não deram sua parcela de ajuda para homenagear os novos deuses. Como se explica isso? Disse furioso.
- Ninrod – respondeu Sem em tom brando – eu e minha casa nos conservamos fiéis ao Deus Altíssimo, que exige exclusividade de seus adoradores. Ele não toleraria que nós participássemos das festividades de coroação de outros deuses e com certeza enviaria muitas desgraças sobre todos. Você ainda se lembra dos ensinamentos do Justo sobre as causa da Grande Calamidade? Será que deseja atrair a irá o Senhor dos Senhores, do Deus dos deuses sobre você nos obrigando a nos contaminarmos adorando outros deuses além d’Ele? Quando decidimos sair da cidade foi para poupar a todos da ira do Altíssimo e suplicar a sua misericórdia sobre o povo que não o serve mais.
- Ancião, irmão de meu pai, como pode escolher adorar um Deus cruel? Um Deus que destruiu toda a civilização antiga? Eu não desejo adorar a este Deus que se inflama em ira e castiga seus servos ao menor deslize, prefiro os deuses que entendem o meu coração, que sentem o que sinto, deuses com quem posso me relacionar. Não quero um Deus que se esconde, que se julga perfeito. Os meus deuses têm suas virtudes e defeitos como um ser humano, na verdade meu sumo sacerdote diz que se cumprirmos os rituais corretamente e formos guerreiros vitoriosos, quando morrermos iremos para a morada celestial, nos tornaremos deuses também. Quanto ao seu Deus ele não nos dá nada!
- Ninrod, você não conhece o amor do Altíssimo! Está iludido, quando despertar do deste sonho será tarde. Muito tarde.
Neste momento, Ninrod se enfureceu e quando ia desembainhar sua espada e avançar sobre Sem, o sumo sacerdote de Asmodel, Baal-Amon, que era o conselheiro pessoal de Ninrod disse:
- Majestade, filho dos deuses, acalme-se, por favor, use de sua misericórdia e ouça-me um instante. Eu suplico!
- O que você quer Baal-Amon? Disse Ninrod colocando a espada na bainha e sentando em seu trono de ouro maciço.
- Majestade – Baal-Amon, aproximou-se de Ninrod, falando-lhe ao pé do ouvido – usemos de astúcia, os deuses somente tem força quando existem pessoas que o adoram, enquanto que os Semitas adorarem ao Deus Altíssimo ele existirá, no dia que pararem de adorá-lo perderá seu poder. Sugiro ao senhor que os deixem realizar estas festividades fora da cidade, assim garantiremos que o Deus deles não intervenha em nossa festa, pois ele ainda é poderoso, quando o nosso povo começar a adorar os novos deuses eles ficarão mais poderosos do que ele. E ai, depois do termino das festas, o senhor deverá proclamar um lei que dirá que aqueles que não estiveram presentes a coroação dos deuses são traídos. O senhor poderá mata-los e confiscar os seus bens. Autorize-os a fazer as celebridades para o Deus Altíssimo, isso será a confissão de morte de todos eles, não lhes revele esse intuito e apenas exija que também contribuam para as nossas festividades.
Ninrod pensou por alguns instantes, depois falou:
- Sem, Baal-Amon deu-me um conselho que julguei adequado. Não devemos desagradar aos deuses antigos, nossa obrigação é cultuar a todos os deuses para conseguir seus favores. Portanto vocês têm autorização para realizar sua festa. Quando chegar a outra lua cheia deverão retornar e começar a trabalhar na construção da Torre de Babel. Todos os moradores do meu reino estão contribuindo para a realização desta coroação e vocês não estão isentos. Assim,  ainda hoje devem enviar para os sacerdotes mil cabeças de gado, uma tonelada de grãos, incenso, ervas aromáticas, dez quilos de ouro e vinte de prata para consagrarmos aos deuses, pois também construiremos o nicho do Deus Altíssimo em nossa torre.
- Faremos como você pede Ninrod, apenas pedimos um prazo maior para ajuntarmos tudo isso. Respondeu Sem, contendo a Lude e Elão que tentaram avançar sobre Ninrod.
- Vejam como sou bondoso, vocês tem até amanhã ao cair da tarde. Agora saiam.
Ao saírem do palácio e Lude falou com seu pai:
- Meu pai, por que entregaremos toda esta riqueza para Ninrod?
- Meu filho você não percebeu que ele planeja nos exterminar se voltarmos? Daremos para ele aquilo que não pudermos levar, também devemos deixar em nossas propriedades uma boa quantidade de riquezas escondidas, pois ao percebem que não voltamos, eles ficarão vários dias procurando por mais tesouros e teremos mais tempo para nos afastarmos de Babel. Meus filhos recolham tudo o que Ninrod pediu. Façam como ele deseja.
No dia seguinte, os guardas de Ninrod recolheram a oferta involuntária dos Semitas, o cortejo chamou a atenção de toda a cidade.

sábado, 28 de maio de 2011

Babel - 6. Os Anciãos



“Kyrie eleison.”
(Senhor, tende piedade de nós)
No dia seguinte, Heber e Elão, voltaram para Babel. Despediram-se e foram cumprir suas tarefas. Heber buscou um representante de cada família do clã e logo ao entardecer, foram para as colinas escolher cuidadosamente dos cinco caminhos pelos quais iriam partir, além de combinar o ponto de encontro do outro lado das colinas. A missão deles durou sete dias.
Enquanto isso Elão, reuniu naquele mesmo dia os lideres de cada família -  Arfaxade, o avó de Heber, Assur, Lude, Arã, e o Ancestral, a fim de comunicar-lhes os planos para a jornada que fariam em algumas semanas. Encontro-os na casa de Sem. Ao iniciar a reunião Disse:
- Meu pai, Irmãos. Que o Altíssimo, Deus Supremo, que nossos pais cultuam deste a criação abençoe nossos planos. Amém! Na noite que passou, foi juntamente com Heber escolher o local onde nos reuniremos para partir. Encontramos um monte descampado que fica a algumas horas daqui. Durante a noite, refleti sobre esta viagem. E conclui que devemos ser muito prudentes nos preparativos que faremos. Pois todos nós sabemos que Ninrod procura uma oportunidade para nos escravizar. Ele não toleraria de bom grado nossa partida, ainda mais depois dos insistentes pedidos para que trabalhemos nas construções de sua torre. Tenho o pressentimento de que após estas festas para estes falsos deuses seremos cruelmente perseguidos. Por isso devemos, com toda a urgência, realizar os preparativos com todo o sigilo possível.
Neste momento, Lude, que era chefe dos que trabalhavam nos campos, e não tinha muito entusiasmo em deixar a planície Sinear disse:
- Irmão, temos sido fiéis aos ensinos do Justo e do Ancestral, mas tenho dúvidas quanto a urgência e até mesmo quanto a necessidade de nos mudarmos para um local que apenas Heber sabe onde é!
- Irmão como ousa pensar isso! – Respondeu Elão indignado – Você sabe muito bem que o próprio Ancestral, que está assentado conosco decidiu que devemos partir o mais breve possível. Porque devemos adiar nossa partida, em sua opinião?
- Irmão Elão. Eu e meus filhos trabalhos nos nossos campos o ano inteiro e a colheita acontecerá logo após esta festa blasfema. Não desejamos ficar para nos contaminarmos com os pecados de Ninrod, apenas acredito que poderíamos realizar a sega, aprovisionar maior quantidade de mantimentos para que nossa jornada seja mais tranqüila. Também porque deixaríamos toda uma safra de graça para os Canitas e Jafetitas?
- Lude meu filho – interpôs Sem – sei que sua família trabalhou duro para preparar os campos. Mas, Heber garantiu-me que ao longo do caminho existem toda uma miríade de plantas comestíveis e animais para caçarmos. Além de contarmos com a Bênção do Altíssimo. Nossa viagem não pode ser adiada, sob nenhum pretexto ou corremos o risco de atrair a fúria de nosso Deus. Na noite passada, durante meu sono, apareceu-me um anjo que a trazia uma mensagem do Altíssimo, que ordenava: “Reúna seus filhos e parta sem demora, pois estarei convosco nesta jornada”. Portanto, meu filho devemos obedecer ao nosso Senhor.
- Mas e nossa colheita? Perguntou Lude com ar de desgosto.
Neste momento quando Assur e Arã fizeram menção de levantar protestos semelhantes, Sem, o ancestral disse:
- Tenho plena certeza de que nosso Deus irá dar-nos prosperidade muito maior ao chegarmos ao vale de Éden.
Elão mais uma vez, tomou a palavra e relatou com detalhes sua conversa com Heber, procurando enfatizar as riquezas que teriam ao chegar ao Vale de Éden e vaticinou os perigos que eles corriam em permanecer em Babel.
Sem, o ancestral, também falou novamente a respeito do tempo antigos e da devassidão dos povos Antigos. Lembrando que apenas o Justo havia sobrevivido a Grande Calamidade por ter cumprido fielmente todas as ordens do Deus Altíssimo. Depois desta fala todos concordaram em seguir os planos propostos por Elão, que disse ao final.
- Nossa viagem será longa, por isso sejam sábios na preparação de suas bagagens. Todos os objetos supérfluos devem ficar para o desposo dos infiéis, não se apeguem a estas pequenas riquezas, pois construiremos outras muito maiores no Vale de Éden. Levem consigo matrizes dos melhores animais e deixem os fracos para trás. Comprem ou façam ferramentas novas. Escolham as melhores sementes para semearmos em nossos novos campos. E acima de tudo, nenhum Canita ou Jafetita deve saber dos nossos planos. Apenas quando estivermos longe é que deveram dar-se conta da nossa fuga.
Todos saíram muito animados com a possibilidade de construir um reino para seus descentes.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Babel - 5. Os preparativos



“Kyrie eleison. 
Christe eleison.”
(Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.)
 Então, Elão, o segundo filho de Sem, tomou a palavra e disse:
- Irmãos e meus filhos, o relato de Heber inspira nossos corações a deixar imediatamente nossos lares e seguir rumo ao Vale, que proponho seja chamado doravante de Éden, mas sou forçado a ser contra este ímpeto, pois, nos últimos anos Ninrod procura por todos os meios nos destruir. Só não o fez porque somos os melhores artesãos, artífices, contrutores e agricultores de Babel, segundo soube ele nos tolera por necessitar de nossos serviços, entretanto procura um pretexto para agir contra nós. Assim sendo, proponho que tenhamos cautela e planejemos muito bem nossa partida.
- Concordo plenamente contigo Elão! Tens alguma sugestão? Disse Salá.
- Sim meu irmão. Na próxima lua cheia começarão as festividades da coroação dos falsos deuses. Sugiro que partamos na segunda noite das festas. De hoje até esta data deveremos reunir nossos animais, ferramentas, livros e riquezas, sem chamar a atenção, em um local que fique no inicio da jornada. Felizmente temos o hábito de sair da cidade durante estás festas profanas, portanto diremos que estamos preparando um acampamento nas próximas da floresta para que não nos contaminemos com as profanações de Ninrod.
- Elão, meu filho, suas palavras são muito sábias e sensatas. Meus filhos, há consenso sobre a proposta? Perguntou Sem.
- Amém! Os responderam todos juntos.
- Assim sendo, que Heber e Elão escolham local e cuidem dos preparativos para a jornada. Os demais devem orientar os de sua casa a guardar segredo dos nossos planos além de se prepararem para a nossa saída. Que o Deus Altíssimo nos seja propicio. Voltem para suas casas e comecem o trabalho. (Ordenou Sem).
Na manhã seguinte, Heber levantou antes no nascer do sol e foi ao encontro de Elão. Juntos foram até as margens da floresta. Após alguma procura, encontram um monte descampado que não era visitado havia muito tempo. Dali era possível avistar a trilha que deveriam seguir. Também permitia uma ampla visão da planície e da cidade de Babel. Como o dia já declinava resolveram passar a noite ali e conversaram longamente sobre os detalhes da saída. Heber disse:
- Meu tio, será que o Altíssimo castigará novamente este povo que insiste em desonrá-lo?
- Heber, os desígnios do Altíssimo, lhe são exclusivos. Não nos compete sondar seus propósitos. Compete-nos sermos fiéis aos mandamentos d’Ele. Você viu as maravilhas que esperam pelos crentes. Sei apenas que os infiéis sofreram castigos eternos. Entregue estes pensamentos aos cuidados do Altíssimo, Ele, dar-lhe-á a paz e a certeza. Seja fiel sempre e o Senhor Deus Altíssimo estará ao seu lado. Mas, agora precisamos nos concentrar em nossa tarefa.
- Compreendo meu tio, mas por que o senhor está tão preocupado, o Altíssimo nos guardará de todo mal. Por acaso o senhor está duvidando do poder d’Ele?
- Heber nunca mais ouse repetir isto! Nunca duvidei do Poder do nosso Deus, porém ele nos aconselha a sermos prudentes, a jamais agirmos levianamente. Por isso estou procurando todos os meios de garantir nossa segurança.
- Continuo sem compreender a razão de tamanha preocupação!
- Você esteve fora por cinco anos. Muita coisa mudou. Nós, os semitas, nos esforçamos para fazer o melhor, pois o Justo, nos ensinou que tudo deve ser feito como se estivéssemos prestando culto ao Altíssimo. Somos os melhores em todas as artes e ciências. Você sabe muito bem que nosso pai é um grande sábio, é mestre na arte de manipular os elementos químicos, utilizando-os para diferentes fins. Além disso, trouxe consigo muitos livros que contém as ciências dos Antigos, ele tem guardado este conhecimento com todo o zelo, e ensinado a todos nós de acordo a competência e afinidade de cada um. A você ele transmitiu os conhecimentos da química, dos minérios e das construções. Eu sempre tive afinidade com as artes da guerra e da cura, e assim fui educado. Cada um dos Semitas é o melhor em sua profissão. Isto tem enfurecido a Ninrod, pois nos recusamos todos os dias a participar da construção de sua abominável torre. Ainda mais, nós temos acumulado consideráveis riquezas o que alimenta a cobiça dos membros da corte. Todos os Canitas e Jafetitas possuem muitas mulheres que procriam todos os anos, como ratos. As crianças nascem doentes, não são devidamente educadas, mal entram na idade fértil e já gerando mais filhos, por isso, a população deles é dez vezes maior do que a nossa. Eles não seguem as orientações para conservar uma boa saúde, por isso morrem vivem menos. Mais do que qualquer mérito humano, temos sobre nós, enquanto permanecermos fiéis, as bênçãos do Altíssimo. Veja que todos esses fatores fizeram com que todos os Canitas e Jafetitas nos desejassem fazer mal.
- Começo a perceber os perigos que enfrentaremos... – respondeu Heber.
- Assim que descobrir que partimos desta cidade profana, Ninrod enviará tropas no nosso encalço com ordens de nos trazer como escravos. Precisamos pensar em seguir uma rota que despiste o máximo os soldados de Ninrod. Também será preciso que, quando instalados no vale do Éden, estejamos preparados para nos defendermos. Segundo seu relato existem apenas duas entradas para o vale.
- Sim, até onde pude explorar não é possível atravessar aquelas montanhas com facilidade – respondeu Heber com certa indignação na voz.
- Isso dependerá do entusiasmo do inimigo em nos destruir. Saiba que Ninrod espera apenas um pretexto para cair sobre nós e dizimar nosso povo.
- Meu tio, nosso destino está a três de viagem daqui ... – disse Heber, ficando preocupado com as previsões de Elão.
- Heber, deixe de infantilidade! Algum dia você será o sucessor de Sem, ele mesmo já disse isto. Muitos de nós simpatizam com esta decisão, mas você ainda é jovem, enquanto Sem completará 595 anos em breve. Precisamos pensar e nos preparar para o momento em que perdermos nosso Ancestral. Se ele morrer antes da nossa partida nos Semitas ficarão dispersos, serão seduzidos pelas artinhas de Ninrod, e em pouco tempo serão destruídos. Você ainda não é experiente o suficiente para liderar sozinho nosso povo. Eis a razão mais importante para que planejemos nossa viajem detalhadamente e estejamos preparados para os futuros ataques. Se bem me lembro você disse, com todas as letras, que era um lugar cheio de riquezas.
- Sim, de fato é. Enfim qual é o seu plano, meu tio?
- Para nossa viagem, penso que ao atravessarmos esta floresta, devemos nos dividir em cinco grupos e seguir por caminhos diferentes. Ao chegarmos no planalto, seguiremos para o norte por cinco dias, somente depois tomaremos o rumo do oriente. Chegando ao precipício devemos seguir mais alguns dias para o norte, antes de descermos as encostas. Durante todo o trajeto pretendo tomar o máximo de cuidado para não deixar rastros do nosso rumo.
- Realmente acho que todas as precauções que o senhor propõe serão suficientes para despistar os possíveis perseguidores de Ninrod. Mas vejo que ainda não são suficientes para o senhor.
- De fato, uma vez no Vale de Éden, devemos erguer fortificamos na entrada do vale de tal forma que seja inexpugnável. Além de montar postos de vigia nos cumes das montanhas mais elevadas. Penso ainda de deveríamos guardar a existência do vale em segredo absoluto. Assim devemos cultivar amplas áreas do lado de fora para disfarçar nosso lar verdadeiro. Também deveremos enviar expedições para explorar e mapear minuciosamente todos os arredores para podermos nos apropriar de suas riquezas e defende-las melhor.
- Devemos levar estes planos ao Ancestral e ao Conselho imediatamente...
- Não se preocupe. O Ancestral já está a par de tudo isso. Ele concorda, e diz também que precisaremos aprender a construir barcos para navegarmos explorando o lago salgado.
- Tio, peço ao Altíssimo que eu possa contar sempre com as orientações do senhor e que os demais anciãos tenham a mesma sabedoria que o senhor.
- Cada pessoa detém dons em um área, você como líder deve aprender a identifica-los e colocar a pessoa para atuar no lugar correto, fazendo a coisa correta. A pior sorte de um homem é fazer cotidianamente aquilo que não lhe agrada, sem a possibilidade de mudar quando for propicio. Já é muito tarde antes de pensar na cidade que construiremos e na jornada precisamos tomar as providencias para nossa saída. Amanhã irei conversar com o Conselho e deliberaremos sobre o tipo de coisas que iremos levar. Enquanto isso você escolherá cinco jovens, serão nossos guias, vocês escolherão os caminhos e marcarão o local de nosso ponto de encontro. Agora vamos dormir, pois precisaremos estar descansados para a jornada.
Durante a noite Heber não conseguiu dormir e se pôs a imaginar os contornos da cidade que construiria na entrada do vale de Éden, também imaginou àquelas que estariam dentro do vale. E todos os detalhes do reino que os semitas consagrariam ao Deus Altíssimo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Babel - 4. O conselho



,” ad te omnis caro veniet”
(todas as criaturas devem comparecer ante Vós).

No Conselho era que os semitas deliberam a respeito de todas as questões relativas ao clã. Qualquer semita, homem ou mulher podia participar com voz e voto. Excepcionalmente nesta reunião apenas os mais velhos tomaram parte, pois quando o grande conselho era convocado, as deliberações eram um tanto demoradas.
No horário marcado todos estavam na casa de Sem. Que tomou a palavra abrindo iniciando a reunião:
- Meus filhos. Sou o último sobrevivente vivo da Grande Calamidade. Sou primogênito de Noé, o Justo. Nasci cem anos antes da punição que o Altíssimo aplicou aos povos dos Antigos. Durante minha infância fui ensinado em todas as artes e ciências dos Setitas, os filhos de Sete, o escolhido de Deus, que receberam a ordem de não se misturar com os Camnitas, os filhos da perdição. Durante longo tempo esta ordem foi cumprida, porém alguns dos nossos filhos casaram com as mulheres Camnitas, e isso os levou a perdição. Meu pai o Justo, nasceu em uma época que os Setitas haviam, quase completamente, abandonado os caminhos do Altíssimo e se pervertido. Ele conservou-se fiel as promessas recebeu a benção de sobreviver a Grande Calamidade, juntamente com seus filhos e suas esposas. Meu irmão, Cam, que havia muito se lembrava da corrupção dos Antigos e desejava ardentemente em seu coração entregar-se a ela, ansiava a morte de Noé, para se rebelar contra o Altíssimo, o que fez imediatamente, sem esperar o corpo de meu pai esfriar, ele ensinou a seus filhos toda a corrupção e irreverência contra o Deus Altíssimo. Jafé, meu segundo irmão sempre foi morno em sua fé, enquanto Noé viveu conservou-se fiel, mas bastou que a lembrança do Justo esfriasse em sua mente, para que ele seguisse a Cam em suas perversidades. Vejo que os Canitas, os Filhos de Cam, e os Jafetitas, os Filhos de Jafé, cometem mais abominações do que os Antigos. Por isso supliquei ao nosso Deus que me orientasse, e um anjo apareceu-me em sonho dizendo de deviam reunir todos os meus filhos e aqueles dos Camitas e Jafetitas que se conservaram fieis ao Senhor e partir para uma terra que o Altíssimo nos reservaria, pois Ele entregou o homem às suas paixões carnais e logo enviará o messias, seu filho, para julgar a todos os viventes, e estabelecer seu reino. Assim enviei a Heber, filho de Salá, para encontrar o caminho que levaria a esta terra prometida. O Deus Altíssimo cumpriu sua palavra e ele esta de volta para nos guiar até lá. Devemos suplicar por nossos irmãos e por este povo pela misericórdia, também pelo sucesso em nossa jornada futura. Heber, venha até aqui e conte sua jornada.
Heber levantou-se do seu lugar e se pôs de pé, ao lado direito de Sem e começou seu relato:
- Meus pais e irmãos. Há cinco anos parti em busca da terra prometida pelo nosso Deus. E Ele me guiou os passos de uma forma maravilhosa. Ouçam:
“Seguindo a direção do oriente, entrei nas florestas onde buscamos madeiras, demorei três dias para atravessá-las, do outro lado encontrei alguns montes muito aprazíveis, os quais escalei sem dificuldades, pois não são íngremes. No topo vi uma imensa planura, coberta de uma vegetação baixa, como capim, e com algumas árvores espalhadas, esta planura é entrecortada pro regatos que correm para o oriente, juntando-se e formando um grande rio.
“Acompanhei o rio, por trinta dias, até o fim da planura, que termina em um grande penhasco, mui alto, ereto como uma parede. Neste ponto o rio é intransponível, por isso, virei-me para o sul, segui á beira o penhasco, vislumbrando a planície exuberante abaixo dos meus pés. Do Alto do penhasco vi no horizonte uma pequena elevação que me chamou a atenção. Numa em sonho um anjo do Altíssimo, disse que eu deveria ir em direção àquele monte. Após sete dias, encontrei uma passagem que me permitiu descer para a planície.
“A planície é uma grande floresta, com árvores dez vezes maiores do que as que existem aqui em Babel. Prossegui com alguma dificuldade pelo meio da floresta, até chegar a um regato, manjei-o por vinte e dois dias, chegando a um imenso lago salgado que vai até o horizonte. Caminhei pelas areias da margem do lago por mais vinte e oito dias, quando cheguei a uma enseada, que de um lado era cercada por montanhas. Do outro lado um colina de beleza impar. E pelo terceiro lado uma planície cortada por um pequeno rio, com um vegetação baixa.
“Ao ver aquele lugar, senti meu coração disparar e tive certeza de que ali seria o local da terra prometida. Permaneci ali por alguns dias, verifique que as terras são propicias para o cultivo, a água é boa para se beber, há abundância de peixes tanto no rio quanto na enseada, além de toda sorte de animais. Quanto decidi explorar as montanhas, encontrei no alto de um colina, ao lado da enseada, uma passagem de uns 20 metros largura. A passagem segui pelo meio de várias montanhas, vi que no cume delas havia uma cobertura branca, que depois ao subir em uma deles descobrir ser água em estado sólido.
“Quando sai da passagem não pude conter minha emoção e chorei, pois o Deus Altíssimo ouviu nossas orações. Ajoelhei-me e cantei altos louvores. Era um vale imenso cercado de altas montanhas por todos os lados, e a mais alta delas era aquela que eu avistará do alto do penhasco. Percorri todo o vale de ponta a ponta. Estava tão maravilhado que não percebi o tempo passar. Nas montanhas pude identificar todo o tipo de minérios necessários para fabricar nossas ferramentas. Também achei ouro e prata. Das montanhas nascem quatro rios que foram um lago numa das extremidades do vale, nestes rios encontrei algumas pedras belíssimas (Heber abriu um saco e mostrou alguns diamantes, rubi e outras pedras preciosas).
“A terra do vale é muito fértil e boa para plantar. Como eu permaneci dois anos explorando o vale vi que o clima é muito ameno, as chuvas são regulares e constantes. Para entrar neste vale há apenas duas entradas. Uma é a passagem pela qual entrei. A outra é por onde o lago segue seu curso, um rio caudaloso segue entre altas montanhas, tive muita dificuldade em descobrir que ele deságua no lago saldado de um grande altura.
“Depois sai do vale com muita tristeza no coração, pois meu desejo era ficar lá. Explorei um o litoral do lago salgado entre as montanhas. Retornei e também percorri aquelas florestas próximas da enseada. Estava tão maravilhado com todas as riquezas daquela terra que havia perdido o desejo de retornar à Babel. Porém em uma noite, há três luas novas, o anjo do Altíssimo apareceu a mim em sonho me advertiu que deveria voltar sem demora, pois grande perigo estava para vir sobre nós. Imediatamente, retornei e mais uma vez vejo que o Deus Altíssimo, vela por nós. Meus pais e irmãos, não demoremos um dia sequer, reunamos nossas famílias e bens, para partirmos já em direção a este jardim de maravilhas”.
Ao terminarem de ouvir o relato de Heber, todos os presente colocaram-se de joelhos e louvaram ao Deus Altíssimo.