quinta-feira, 26 de maio de 2011

Babel - 5. Os preparativos



“Kyrie eleison. 
Christe eleison.”
(Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.)
 Então, Elão, o segundo filho de Sem, tomou a palavra e disse:
- Irmãos e meus filhos, o relato de Heber inspira nossos corações a deixar imediatamente nossos lares e seguir rumo ao Vale, que proponho seja chamado doravante de Éden, mas sou forçado a ser contra este ímpeto, pois, nos últimos anos Ninrod procura por todos os meios nos destruir. Só não o fez porque somos os melhores artesãos, artífices, contrutores e agricultores de Babel, segundo soube ele nos tolera por necessitar de nossos serviços, entretanto procura um pretexto para agir contra nós. Assim sendo, proponho que tenhamos cautela e planejemos muito bem nossa partida.
- Concordo plenamente contigo Elão! Tens alguma sugestão? Disse Salá.
- Sim meu irmão. Na próxima lua cheia começarão as festividades da coroação dos falsos deuses. Sugiro que partamos na segunda noite das festas. De hoje até esta data deveremos reunir nossos animais, ferramentas, livros e riquezas, sem chamar a atenção, em um local que fique no inicio da jornada. Felizmente temos o hábito de sair da cidade durante estás festas profanas, portanto diremos que estamos preparando um acampamento nas próximas da floresta para que não nos contaminemos com as profanações de Ninrod.
- Elão, meu filho, suas palavras são muito sábias e sensatas. Meus filhos, há consenso sobre a proposta? Perguntou Sem.
- Amém! Os responderam todos juntos.
- Assim sendo, que Heber e Elão escolham local e cuidem dos preparativos para a jornada. Os demais devem orientar os de sua casa a guardar segredo dos nossos planos além de se prepararem para a nossa saída. Que o Deus Altíssimo nos seja propicio. Voltem para suas casas e comecem o trabalho. (Ordenou Sem).
Na manhã seguinte, Heber levantou antes no nascer do sol e foi ao encontro de Elão. Juntos foram até as margens da floresta. Após alguma procura, encontram um monte descampado que não era visitado havia muito tempo. Dali era possível avistar a trilha que deveriam seguir. Também permitia uma ampla visão da planície e da cidade de Babel. Como o dia já declinava resolveram passar a noite ali e conversaram longamente sobre os detalhes da saída. Heber disse:
- Meu tio, será que o Altíssimo castigará novamente este povo que insiste em desonrá-lo?
- Heber, os desígnios do Altíssimo, lhe são exclusivos. Não nos compete sondar seus propósitos. Compete-nos sermos fiéis aos mandamentos d’Ele. Você viu as maravilhas que esperam pelos crentes. Sei apenas que os infiéis sofreram castigos eternos. Entregue estes pensamentos aos cuidados do Altíssimo, Ele, dar-lhe-á a paz e a certeza. Seja fiel sempre e o Senhor Deus Altíssimo estará ao seu lado. Mas, agora precisamos nos concentrar em nossa tarefa.
- Compreendo meu tio, mas por que o senhor está tão preocupado, o Altíssimo nos guardará de todo mal. Por acaso o senhor está duvidando do poder d’Ele?
- Heber nunca mais ouse repetir isto! Nunca duvidei do Poder do nosso Deus, porém ele nos aconselha a sermos prudentes, a jamais agirmos levianamente. Por isso estou procurando todos os meios de garantir nossa segurança.
- Continuo sem compreender a razão de tamanha preocupação!
- Você esteve fora por cinco anos. Muita coisa mudou. Nós, os semitas, nos esforçamos para fazer o melhor, pois o Justo, nos ensinou que tudo deve ser feito como se estivéssemos prestando culto ao Altíssimo. Somos os melhores em todas as artes e ciências. Você sabe muito bem que nosso pai é um grande sábio, é mestre na arte de manipular os elementos químicos, utilizando-os para diferentes fins. Além disso, trouxe consigo muitos livros que contém as ciências dos Antigos, ele tem guardado este conhecimento com todo o zelo, e ensinado a todos nós de acordo a competência e afinidade de cada um. A você ele transmitiu os conhecimentos da química, dos minérios e das construções. Eu sempre tive afinidade com as artes da guerra e da cura, e assim fui educado. Cada um dos Semitas é o melhor em sua profissão. Isto tem enfurecido a Ninrod, pois nos recusamos todos os dias a participar da construção de sua abominável torre. Ainda mais, nós temos acumulado consideráveis riquezas o que alimenta a cobiça dos membros da corte. Todos os Canitas e Jafetitas possuem muitas mulheres que procriam todos os anos, como ratos. As crianças nascem doentes, não são devidamente educadas, mal entram na idade fértil e já gerando mais filhos, por isso, a população deles é dez vezes maior do que a nossa. Eles não seguem as orientações para conservar uma boa saúde, por isso morrem vivem menos. Mais do que qualquer mérito humano, temos sobre nós, enquanto permanecermos fiéis, as bênçãos do Altíssimo. Veja que todos esses fatores fizeram com que todos os Canitas e Jafetitas nos desejassem fazer mal.
- Começo a perceber os perigos que enfrentaremos... – respondeu Heber.
- Assim que descobrir que partimos desta cidade profana, Ninrod enviará tropas no nosso encalço com ordens de nos trazer como escravos. Precisamos pensar em seguir uma rota que despiste o máximo os soldados de Ninrod. Também será preciso que, quando instalados no vale do Éden, estejamos preparados para nos defendermos. Segundo seu relato existem apenas duas entradas para o vale.
- Sim, até onde pude explorar não é possível atravessar aquelas montanhas com facilidade – respondeu Heber com certa indignação na voz.
- Isso dependerá do entusiasmo do inimigo em nos destruir. Saiba que Ninrod espera apenas um pretexto para cair sobre nós e dizimar nosso povo.
- Meu tio, nosso destino está a três de viagem daqui ... – disse Heber, ficando preocupado com as previsões de Elão.
- Heber, deixe de infantilidade! Algum dia você será o sucessor de Sem, ele mesmo já disse isto. Muitos de nós simpatizam com esta decisão, mas você ainda é jovem, enquanto Sem completará 595 anos em breve. Precisamos pensar e nos preparar para o momento em que perdermos nosso Ancestral. Se ele morrer antes da nossa partida nos Semitas ficarão dispersos, serão seduzidos pelas artinhas de Ninrod, e em pouco tempo serão destruídos. Você ainda não é experiente o suficiente para liderar sozinho nosso povo. Eis a razão mais importante para que planejemos nossa viajem detalhadamente e estejamos preparados para os futuros ataques. Se bem me lembro você disse, com todas as letras, que era um lugar cheio de riquezas.
- Sim, de fato é. Enfim qual é o seu plano, meu tio?
- Para nossa viagem, penso que ao atravessarmos esta floresta, devemos nos dividir em cinco grupos e seguir por caminhos diferentes. Ao chegarmos no planalto, seguiremos para o norte por cinco dias, somente depois tomaremos o rumo do oriente. Chegando ao precipício devemos seguir mais alguns dias para o norte, antes de descermos as encostas. Durante todo o trajeto pretendo tomar o máximo de cuidado para não deixar rastros do nosso rumo.
- Realmente acho que todas as precauções que o senhor propõe serão suficientes para despistar os possíveis perseguidores de Ninrod. Mas vejo que ainda não são suficientes para o senhor.
- De fato, uma vez no Vale de Éden, devemos erguer fortificamos na entrada do vale de tal forma que seja inexpugnável. Além de montar postos de vigia nos cumes das montanhas mais elevadas. Penso ainda de deveríamos guardar a existência do vale em segredo absoluto. Assim devemos cultivar amplas áreas do lado de fora para disfarçar nosso lar verdadeiro. Também deveremos enviar expedições para explorar e mapear minuciosamente todos os arredores para podermos nos apropriar de suas riquezas e defende-las melhor.
- Devemos levar estes planos ao Ancestral e ao Conselho imediatamente...
- Não se preocupe. O Ancestral já está a par de tudo isso. Ele concorda, e diz também que precisaremos aprender a construir barcos para navegarmos explorando o lago salgado.
- Tio, peço ao Altíssimo que eu possa contar sempre com as orientações do senhor e que os demais anciãos tenham a mesma sabedoria que o senhor.
- Cada pessoa detém dons em um área, você como líder deve aprender a identifica-los e colocar a pessoa para atuar no lugar correto, fazendo a coisa correta. A pior sorte de um homem é fazer cotidianamente aquilo que não lhe agrada, sem a possibilidade de mudar quando for propicio. Já é muito tarde antes de pensar na cidade que construiremos e na jornada precisamos tomar as providencias para nossa saída. Amanhã irei conversar com o Conselho e deliberaremos sobre o tipo de coisas que iremos levar. Enquanto isso você escolherá cinco jovens, serão nossos guias, vocês escolherão os caminhos e marcarão o local de nosso ponto de encontro. Agora vamos dormir, pois precisaremos estar descansados para a jornada.
Durante a noite Heber não conseguiu dormir e se pôs a imaginar os contornos da cidade que construiria na entrada do vale de Éden, também imaginou àquelas que estariam dentro do vale. E todos os detalhes do reino que os semitas consagrariam ao Deus Altíssimo.

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