segunda-feira, 30 de maio de 2011

Babel - 7.Os últimos dias em Babel



“Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla
Teste David cum Sibylla”
(Dia de ira aquele em que o universo será reduzido a cinzas,
segundo as predições de David e Sibila.)
Durante aquele mês todas as famílias Semitas trabalharam arduamente nos preparativos para a longa jornada que iriam empreender. Confeccionaram novas ferramentas, novas roupas, separam os melhores animais que receberam todos os cuidados para suportarem bem a longa jornada, ajuntaram as melhores mudas e sementes.
Ao mesmo tempo os preparativos das festividades de coroação dos novos deuses seguiam agitadas, inúmeras cabeças de gado estavam sendo solicitadas a todos os fazendeiros da planície de sinear, e levadas para as dependências da torre de Babel, onde também ficava o palácio de Ninrod. Todos os dias chegavam carregamentos de vinho, azeite, cereais, frutas, legumes de todos os cantos do reino para que durante aquele mês as pessoas comessem a vontade.
Os semitas também empreenderam todos os esforços para que sua partida passasse despercebida. Se bem que com toda a agitação da cidade, o preparativos mal foi percebido. E aqueles que perguntavam alguma coisa, a resposta convencionada pelos anciãos foi que estavam preparando uma festa para o Deus Altíssimo, nas colinas próximas a cidade, pois os semitas não desejavam se contaminar durante as festividades.
Porém, faltando uma semana para a lua cheia, estando Conselho reunido,  chegaram à casa de Sem alguns guardas que levaram, forma muito truculenta, os chefes das famílias Semitas à presença de Ninrod.
Chegando ao palácio, foram recebidos por Ninrod, que tinha uma expressão de desagrado no rosto:
- Filhos de Sem, foi informado por meus guardas que vocês estão preparando uma festa ao seu Deus fora da cidade. Por que vocês insistem em desobedecer minhas ordens? Os mensageiros anunciaram que todos no meu reino deveriam participar das festividades e também contribuir para a realização delas. Mas vocês além de não querer participar ainda não deram sua parcela de ajuda para homenagear os novos deuses. Como se explica isso? Disse furioso.
- Ninrod – respondeu Sem em tom brando – eu e minha casa nos conservamos fiéis ao Deus Altíssimo, que exige exclusividade de seus adoradores. Ele não toleraria que nós participássemos das festividades de coroação de outros deuses e com certeza enviaria muitas desgraças sobre todos. Você ainda se lembra dos ensinamentos do Justo sobre as causa da Grande Calamidade? Será que deseja atrair a irá o Senhor dos Senhores, do Deus dos deuses sobre você nos obrigando a nos contaminarmos adorando outros deuses além d’Ele? Quando decidimos sair da cidade foi para poupar a todos da ira do Altíssimo e suplicar a sua misericórdia sobre o povo que não o serve mais.
- Ancião, irmão de meu pai, como pode escolher adorar um Deus cruel? Um Deus que destruiu toda a civilização antiga? Eu não desejo adorar a este Deus que se inflama em ira e castiga seus servos ao menor deslize, prefiro os deuses que entendem o meu coração, que sentem o que sinto, deuses com quem posso me relacionar. Não quero um Deus que se esconde, que se julga perfeito. Os meus deuses têm suas virtudes e defeitos como um ser humano, na verdade meu sumo sacerdote diz que se cumprirmos os rituais corretamente e formos guerreiros vitoriosos, quando morrermos iremos para a morada celestial, nos tornaremos deuses também. Quanto ao seu Deus ele não nos dá nada!
- Ninrod, você não conhece o amor do Altíssimo! Está iludido, quando despertar do deste sonho será tarde. Muito tarde.
Neste momento, Ninrod se enfureceu e quando ia desembainhar sua espada e avançar sobre Sem, o sumo sacerdote de Asmodel, Baal-Amon, que era o conselheiro pessoal de Ninrod disse:
- Majestade, filho dos deuses, acalme-se, por favor, use de sua misericórdia e ouça-me um instante. Eu suplico!
- O que você quer Baal-Amon? Disse Ninrod colocando a espada na bainha e sentando em seu trono de ouro maciço.
- Majestade – Baal-Amon, aproximou-se de Ninrod, falando-lhe ao pé do ouvido – usemos de astúcia, os deuses somente tem força quando existem pessoas que o adoram, enquanto que os Semitas adorarem ao Deus Altíssimo ele existirá, no dia que pararem de adorá-lo perderá seu poder. Sugiro ao senhor que os deixem realizar estas festividades fora da cidade, assim garantiremos que o Deus deles não intervenha em nossa festa, pois ele ainda é poderoso, quando o nosso povo começar a adorar os novos deuses eles ficarão mais poderosos do que ele. E ai, depois do termino das festas, o senhor deverá proclamar um lei que dirá que aqueles que não estiveram presentes a coroação dos deuses são traídos. O senhor poderá mata-los e confiscar os seus bens. Autorize-os a fazer as celebridades para o Deus Altíssimo, isso será a confissão de morte de todos eles, não lhes revele esse intuito e apenas exija que também contribuam para as nossas festividades.
Ninrod pensou por alguns instantes, depois falou:
- Sem, Baal-Amon deu-me um conselho que julguei adequado. Não devemos desagradar aos deuses antigos, nossa obrigação é cultuar a todos os deuses para conseguir seus favores. Portanto vocês têm autorização para realizar sua festa. Quando chegar a outra lua cheia deverão retornar e começar a trabalhar na construção da Torre de Babel. Todos os moradores do meu reino estão contribuindo para a realização desta coroação e vocês não estão isentos. Assim,  ainda hoje devem enviar para os sacerdotes mil cabeças de gado, uma tonelada de grãos, incenso, ervas aromáticas, dez quilos de ouro e vinte de prata para consagrarmos aos deuses, pois também construiremos o nicho do Deus Altíssimo em nossa torre.
- Faremos como você pede Ninrod, apenas pedimos um prazo maior para ajuntarmos tudo isso. Respondeu Sem, contendo a Lude e Elão que tentaram avançar sobre Ninrod.
- Vejam como sou bondoso, vocês tem até amanhã ao cair da tarde. Agora saiam.
Ao saírem do palácio e Lude falou com seu pai:
- Meu pai, por que entregaremos toda esta riqueza para Ninrod?
- Meu filho você não percebeu que ele planeja nos exterminar se voltarmos? Daremos para ele aquilo que não pudermos levar, também devemos deixar em nossas propriedades uma boa quantidade de riquezas escondidas, pois ao percebem que não voltamos, eles ficarão vários dias procurando por mais tesouros e teremos mais tempo para nos afastarmos de Babel. Meus filhos recolham tudo o que Ninrod pediu. Façam como ele deseja.
No dia seguinte, os guardas de Ninrod recolheram a oferta involuntária dos Semitas, o cortejo chamou a atenção de toda a cidade.

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