segunda-feira, 10 de outubro de 2011

40. Trégua



Dentro da cidade os homens de Pelegue soltaram brados de alegria quando viram os homens de Ninrod, batendo em retirada. Assim que os sobreviventes voltaram para o acampamento, todos os que estavam sobre a muralha, viram aquele mar de corpos espalhados pelos campos, calaram-se, ninguém ousou dizer uma palavra, cada um imaginava o que poderia ter acontecido se os invasores tivessem conseguido entrar em Gilgal.
Pelegue pensava tristemente que aquele campo era apenas o início. Imaginou o belo vale de Éden destruído, coberto de corpos, então, se retirou para os seus aposentos para orar e chorou. Ao cair da tarde saiu para se alimentar e deu ordens para que, dentro da sétima muralha, todos os aerotransportes estivessem preparados para uma partida de emergência. Os homens não entenderam o porque da ordem, pois achavam que a cidade era inexpugnável.
De fato o era, desde que não fosse traída, fato que transcorria naquele momento.
Ninrod estava abismado. Em meio dia de combates morreram quase cento e cinqüenta mil homens e outros cem mil estavam feridos. A única coisa que o consolava era a chegada de seu filho. No jantar eles comeram juntos, Ninrod II contou a seu pai sobre o que vira e que havia conseguido que um dos Semitas traísse seu povo em troca de ser nomeado rei e tornar-se vassalo de Ninrod. Tais notícias o agradaram muito e ele ordenou que Judas fosse ter com ele. Ao vê-lo o  saudou calorosamente:
- Salve Judas! Futuro rei dos Semitas. Eu, Ninrod o acolho como meu servo e legitimo senhor destas terras!
Todos os presentes ficaram muito admirados da recepção dada ao semita. Judas ainda mais, agora tinha convicção de que seria rei e sua língua se soltou completamente.
- Salve Ninrod! Rei dos reis, senhor do mundo! Eu Judas, humilde servo, futuro senhor dos semitas, vim para colocar-me sob suas ordens. Falou com toda a pompa que costumeiramente usava nas reuniões do conselho, e que era motivo de escárnio por parte dos seus adversários.
- Meu Filho, hoje, eu sofri uma derrota lastimável. Eu não conhecia as máquinas de guerra que pertencem ao seu povo. Vocês ardilosamente se prepararam. Como não conhecia esta terra fui pego de surpresa. Mas espero que você, como meu aliado, possa me dar informações úteis para a minha, quer dizer, nossa vitória.
- Meu senhor, contarei o que deseja saber apenas se confirmar diante de todos que eu serei nomeado rei dos semitas e que estas terras farão parte dos meus domínios, em troca pagarei tributos e serei seu servo.
- Eu Ninrod, confirmo você como rei dos semitas. Confirmo também estas terras como sendo parte de seu reino. Aceito sua vassalagem e seus tributos, que em tempo oportuno fixarei. Agora conte tudo sobre estas terras.
Judas, não hesitou mais um segundo e falou:
- Nós semitas construímos um grande reino desde nossa partida de Babel. Eu sou da primeira geração nascida aqui. Construímos lindas cidades. Nossos campos são os mais férteis. Temos todo tipo de máquinas que facilitam e multiplicam nosso trabalho. Em nosso reino há sete cidades, sendo duas que vocês já viram, El-zedeque e Gilgal. Dentro do vale de Éden, do outro lado das montanhas estão as cinco cidades restantes. Gilgal e El-zedeque foram construídas para defender a entrada do vale, pois é lá dentro que estão as nossas maiores riquezas. Cada região do vale produz um artefato diferente. Havilá trabalha com ouro, prata e pedras preciosas. Belém e Gilgal cuidam dos alimentos e animais. Sucote produz todo tipo de metais e máquinas pesadas. El-zedeque e Cafarnaum são nossos portos e confecções. Betel é onde fabricamos todo tipo de produtos químicos. E em Enos, nossa capital, que fica no centro do Vale, estão nossas escolas e fábricas das técnicas mais avançadas, por exemplo, o aerotransporte é feito lá. Assim é o nosso reino. Judas estava tão cheio de orgulho em contar das riquezas de Éden, que não percebia os olhares de cobiça dos generais de Ninrod.
- Mas há quantos homens no exercito? Vocês são em quantos habitantes?
- Somos cerca de duzentos mil ao todo. Nosso exercito tem cerca de doze mil integrantes, homens e mulheres.
- O quê? Mulheres lutam?! Não há ordem entre este povo! – Vociferou Anamin um dos generais presentes, segundo em comando depois de Ninrod.
- Cale-se Anamin! – retrucou Ninrod, e virando-se para Judas, disse em tom conciliador – Judas, meu servo, hoje sofremos uma humilhante derrota, pois os defensores de Gilgal não lutaram pelas regras de combates civilizados. Usaram artifícios fraudulentos. Você conhece algum meio, que possamos usar, para lutarmos honradamente?
- Quanto as armas e técnicas do exercito não sei nada, pois sempre fui contra a guerra. Na minha infância, Elão nos ensinou técnicas de combate corpo-a-corpo, como até hoje se ensina a todas as nossas crianças, mas assim que me tornei adulto nunca me interessei pelo exército. Por isso não sei nada destas armas que eles usaram. Mas, eu nasci e fui criado em Gilgal, conheço a cidade como a palma da minha mão. Sei como entrar mesmo com os portões fechados.
- Ora! Por que não disse isso antes? Ande conte como fazemos isso? – Gritou Ninrod, agarrando Judas e o puxando para uma grande mesa onde os generais se reuniam, então abriu um pergaminho – Desenhe aqui um mapa da cidade e de como podemos entrar e depois abrir os portões.

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