quinta-feira, 16 de junho de 2011

Babel - 14. Às portas de Éden



“Unde mundus judicetur”
(sobre o que há-de versar o julgamento do mundo.)
A caminhada pelas praias do lago salgado foram tranqüilas e sem grandes obstáculos. O povo pescava fartamente no lago e aprendeu quais frutos podia colher na floresta. O sentimento de alegria era geral.
Ao fim do quadragésimo dia, viram pela primeira vez as montanhas que cercavam o vale de Éden. Seguiram pela praia e cruzaram um riacho, dando de frente com uma enseada, de formado circular, tendo do lado norte uma suave elevação que terminava no sopé dos montes de Éden. Que desciam quase verticalmente, de grandes alturas, dentro do lago salgado. Do lado sul, havia uma península quase fechava a enseada, ficando apenas uma passagem de uns 150 metros pelo mar. Em frente à enseada formava-se uma imensa planície, coberta de vegetação rasteira, que ia entre a grande floresta e o começo dos grandes montes. A visão daquele lugar deixou o povo embasbacado.
Heber, em cima de seu cavalo, bradou:
- “Meu irmãos enfim chegamos ao local onde lhes falei. Aqui construiremos nossa cidade. Aqui cultuaremos ao Deus Altíssimo. Sigam-me e lhe mostrarei o vale de Éden”.
Heber apeou e subiu a colina em direção as montanhas. Então, surgiu diante dele uma passagem estreita, de pouco mais de 10 metros de largura, as paredes de granito escuro subiam verticalmente a mais de 300 metros, pareciam que foram cortadas com uma lâmina afiada. Ele entrou na passagem e foi seguido pelo povo, mesmo ainda sendo dia dentro dela já estava escuro, apenas ao meio dia havia luz total na passagem, a aparecia era de uma caverna cujo teto desabara. O povo andou apreensivo atravessando o cânion, o comprimento era de quase mil metros. Quando saíram do cânion ficaram ofuscados pelo retorno à claridade. Ao recuperarem a visão ficaram perplexos diante da vista do vale de Éden.
O gigantesco vale verdejante. Cercado por altas montanhas por todos dos lados. Da saída da passagem era possível ver um lago e os quatro rios, que mais tarde foram nomeados de Pisom, Giom, Tigre e Eufrates, o maior deles quatro. Os rios nasciam nas montanhas e corriam até a parte mais baixa do vale formando um lago de águas puríssimas e cristalinas. Dentro do vale havia toda a sorte de árvores frutíferas e muitos pássaros de cantos exóticos. Todo o povo ficou parado contemplando o vale até o pôr-do-sol.
Então, saíram do vale e se acamparam do lado de fora. Naquele noite fizeram um grande banquete e todos alegraram-se por terem alcançado o fim da viajem com todas as bênçãos do Altíssimo.
Heber, porém, permaneceu afastado das comemorações, estava sentado sobre uma pedra próxima à entrada para o vale, estava absorto em pensamentos, planos e projetos sobre as construções para a cidade dos Semitas, qual nome lhe dariam. Ele estava tão distraído que não percebeu a aproximação de uma pessoa.
-Heber?!- Falou, tocando no ombro de Heber.
- Quem é?? – respondeu Heber, levando um grande susto e pondo-se de é em um salto.
- Milca, filha de Elão – Ela respondeu ficando muito envergonhada - Perdoe-me por vir perturbá-lo, sei que você é o nosso futuro líder e que o Ancestral deposita grande confiança em você. Desculpe-me por incomodá-lo, voltarei para junto de meus irmãos – terminou de falar, preparando-se para sair.
- Oh! Não, não é incomodo nenhum. – Disse Heber, com o coração acelerado, segurando Milca pela mão. Fique! Eu estava tão absorvido em meus pensamentos que não a vi chegar.
- É que eu o vi só, sentado sobre esta pedra e decidi que seria o melhor momento para me aproximar – respondeu, ficando ruborizada – já a algum tempo desejo lhe entregar algo, mas você está sempre muito atarefado e eu não queria atrapalhar.
- Não, não há com o que se preocupar, se você quiser falar comigo e só me chamar e vou atendê-la de imediato – Falou empertigando-se todo – Mas o que você quer me entregar?
Milca tirou um pequeno embrulho que segurava embaixo de sua capa, e ofereceu a Heber, que abriu e ficou maravilhado com seu presente. Era um túnica de mangas compridas e que ia até o tornozelo, listrada de azul, branco e púrpura.
- Eu mesma teci! Fiz para você. Termine-a quando deixamos Babel. Eu aguardava o momento de lhe entregar. Falou Milca, muito acanhada e com a voz baixa.
- É linda, nunca vi nenhuma igual! Mas porque a fez para mim? Perguntou Heber, um tanto surpreso.
- Decido tece-la no dia em que você falou ao conselho dos anciãos, eu estava junto de meus irmãos mais velho e ouvi seu relato. Meu coração disparou em pensar que viríamos para cá. Achei que o nosso guia mereceria um presente por cumprir missões tão importantes.
- Muito obrigado, mas eu não sou merecedor desta honra! Respondeu Heber, baixando a cabeça e oferecendo de volta a túnica - Eu estava sozinho pensando se serei capaz de cumprir com as exigências que todos estão colocando sobre mim. Eu não tenho a capacidade para cumprir com todas elas.
- Como assim não é merecedor?! – Bradou Milca, com tamanha indignação que Heber se assustou com a reação dela – Você andar por cinco anos até encontrar o Vale de Éden, voltou e nos guiou em segurança até aqui. Será que apenas por medo de suas responsabilidades você fugirá delas? Isto não faz parte o homem que falou na reunião dos Anciãos em Babel. Confie no Deus Altíssimo, ele o ajudará. E se você recusar meu presente nunca mais lhe dirigirei a palavra!
- Bom já que você coloca as coisas nestes termos – falou Heber constrangido pela repreensão que acabará de ouvir – Mas apenas aceitarei o seu presente, se pudermos continuar a conservar quando nos encontrarmos. Aceita?
- Sim! Milca respondeu com um sorriso. Mas quais são as tarefas que tanto o preocupam? Você pode me contar?
- Claro! O ancestral em encarregou de ser o arquiteto das construções que faremos. Eu estava pensando nisso quando você chegou – respondeu Heber – Venha sente-se aqui que vou lhe falar o que estava pensando.
Milca sentou-se ao lado de Heber na pedra, que começou a descrever os projetos da cidade que iriam construir. Milca ficou encantada e fazia muitas perguntas sobre os detalhes, que Heber ia respondendo com imenso prazer. Os dois ficaram conversando até o nascer do Sol. Daquele dia em diante, Heber sempre procurava uma desculpa para visitar a tenda de Elão. Milca por sua vez também inventava mil motivos para visitar as filhas de Salá, irmãs de Heber.

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