Chegaram a Gilgal por volta do meio dia. Judas os recebeu com um lauto banquete, e fez insinuações de que se deveria pensar na paz e não na guerra. Após almoçarem tentou participar do interrogatório e foi barrado por Elão.
Entrando no quarto em que estava o espião, viram um homem forte e alto, com aspecto de já ser experimentado pela vida, Heber adiantou-se o saudou:
- Saúdo o visitante na Graça do Deus Altíssimo!
Ao que o espião respondeu:
- Que a benfazeja Tanit esteja convosco!
Ouvindo tal saudação Heber estremeceu, fato que o espião percebeu. Recuperando a calma Heber continuou:
- Que é você? O que traz a terras tão distantes de Babel?
- Meu nome é Ninrod II, sou o filho primogênito de Ninrod, o Grande. Venho a procura dos servos amados de meu pai que saíram de suas possessões a cento e vinte anos, deste de então, foi encarregado de encontrá-los para que pudéssemos restituir o que deixaram para traz e também para convidá-los a voltar a viver em paz conosco. Esta é a minha missão. Mas com que falo agora?
- Sou Heber.
- Meu pai lhe envia sinceros votos de felicidade e também ao Ancestral, se vivo ainda for.
- Filho de Ninrod acolhemos seus votos, mas no diga o que se passa em Babel? Por quê Ninrod persevera em nos encontrar? E como nos encontrou?
- Bom contarei deste o momento em que nos deixaram. Durante as Festividades da coroação dos deuses, havíamos dado autorização para que vocês cultuassem o seu Deus, pois acreditamos que todos os deuses devem ser cultuados igualmente. Mas por um ardil, que desagradou por demais a meu pai, vocês fugiram. Meu pai ficou transtornado por ter sido atraiçoado desta forma, logo ele que lhes dava total apoio em todos os seus trabalhos. Ele ficou tão enfurecido que arremessou pela janela do palácio, que fica no topo da Torre de Babel, o mensageiro que lhe trouxe a notícia. Pois ele havia preparado um nicho especial para o Deus Altíssimo na Torre, além de oferecer a Sem a direção sobre todos os construtores. A saída traiçoeira de vocês o magôo muitíssimo. Deste então, nossa terra não tem mais a alegria, a fecundidade e a prosperidade, pois um dos deuses foi retirado de nosso meio. Asmodel, o deus supremo, nos alertou de que a saída de vocês e do Altíssimo o desagradaram e por isso somos penalizados com enchentes, secas e nossos animais estão doentes. Meu pai, Ninrod, o Grande, desde o dia em que fugiram envia embaixadas a procura de seu paradeiro. Por cem anos não os achamos, sabíamos que haviam atravessado a floresta, mas nós não encontrávamos o caminho. Durante as buscas colonizamos o planalto ao oriente de Sinear, e varias vezes á noite vimos luzes nestes montes. Então eu fui incumbido de organizar uma grande caravana que contornaria a floresta pelo norte, às margens do grande deserto. Assim fizemos, mas a jornada foi dura e penosa, sai de Babel há dois anos atrás com cerca de cinco mil homens, e toda a carga para a viagem. No caminho fomos atacados a noite por animais selvagens, os homens adoeciam e morriam, o calor durante o dia era insuportável, e a noite o frio nos congelava. Assim quando chegamos as planícies do Jordão, restavam apenas eu e meu servo mais leal, que morreu pouco antes de sermos encontrados pelos homens de Judas. E aqui estou, o único a conseguir chegar até vocês.
- Sua história é comovente, filho de Ninrod, mas ainda não nos disse o motivo de tamanho esforço em nos encontrar. Disse Heber.
- Vim com o propósito de estabelecer a paz e comerciar com seu povo, temos ouro em abundância, podemos pagar pelos seus serviços – Falou Ninrod II humildemente.
- Nosso povo não tem necessidade de comerciar pois somos suficientes naquilo que precisamos – Replicou Heber – a sua visita nos trás à memória as lembranças dos abusos cometidos por seu pai contra nós. Em Babel éramos espoliados dos nossos bens e riquezas. Quando saímos levamos conosco apenas nossas ferramentas e o suficiente de comida para a jornada, deixamos todo o nosso ouro, bens e colheitas para vocês. Acredito que Ninrod ficou muito feliz com isso. Nós sabíamos que após as festividades dos seus falsos deuses, seríamos exterminados, pois assim nos alertou o Deus Altíssimo. Quanto à paz entre nosso povo fomos proibidos pelo nosso Deus de fazê-la. Quanto a sua vida, você ficará aqui até decidirmos o que fazer.
E saíram da sala deixando Ninrod II furioso. Felizmente ele já havia conseguido comprar um dos Semitas com promessas melífluas, e também parte de sua caravana havia retornado antes de entrar no reino de Sem. E seus servos mais leais estavam escondidos esperando para resgatá-lo. Antes ele precisava descobrir mais sobre o poder destes fugitivos. Pensava: “Em breve tomarei tudo o que é de vocês”.
Elão e Heber decidiram levar Ninrod II para El-zedeque. Naquela noite, o levaram vendado e dentro de um compartimento de carga do aerotransporte. Ninrod se surpreendeu com o silencio daquele transporte e com sua velocidade que mesmo vendado podia sentir. Em poucas horas fora levado de Gilgal para El-zedeque, que fica cerca de uns trezentos quilômetros. Lá foi encarcerado no forte do campo, numa sala que dava vista apenas para as grandes montanhas.
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